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Mulheres que fizeram história - Artemísia Gentileschi

No último post falamos sobre uma artista de grande visibilidade durante a Renascença, hoje quem vem assumir seu posto na história da arte e da humanidade é Artemísia Gentileschi, nasceu em 8 de julho de 1593 em Roma, e viveu durante o período histórico conhecido como Barroco, filha de pintor desde cedo manifestou muito interesse e talento pela pintura, tanto que seu pai a permitiu estudar com Agostino Tassi, mas em 1612 foi aberto por seu pai um processo contra Tassi, por violentá-la sexualmente em seu ateliê, situação que aconteceu por cerca de um ano, visto que Artemísia se mantinha refém de Tassi temendo a desonra, ao encorajar-se a contar e buscar justiça sobre o ocorrido, foi novamente violentada mediante as circunstâncias do processo para provar a acusação, uma vez que devido ao tempo de permanência, Artemísia foi acusada de ser amante e não vítima de Tassi. O processo não resultou numa grande punição, mas sem dúvidas instigou muito seu trabalho como pintora.

Em 1916 Roberto Longui, faz uma análise das obras de Artemísia analisando a produção da artista no contexto do caravagismo, essa análise foi marcada por um método que distinguia claramente os estilos das obras de Artemísia em relação às de seu pai.

Ele defende que a inclinação de Artemísia passa pelo caravagismo romano estilo florentino e pelo classicismo napolitano, mas suas obras são produzidas com tal expressão que não há precedentes entre seus contemporâneos.

A artista se autorretratou na grande maioria das suas obras através de mulheres célebres ou presentes nos textos bíblicos, como Cleópatra, Judite, Madalena, Lucrécia.

A influência do caravagismo, inteiramente desenvolvido durante o período, na pintura pode ser identificada através dos contrastes de luz e sombra. Mas a diferença na expressão e na postura das personagens é muito clara entre as obras de Caravaccio e Artemísia Gentileschi.

Caravaggio, 1599 – Óleo sobre tela – 144x195cm Galeria Nacional de Arte Antiga, Roma

Artemisia GENTILESCHI (1593–1652/53)

Judite decapitando Holofernes, c. 1611-12

Óleo sobre tela, 158,8 x 125,5 cm

Museo Nazionale di Capodimonte, Napoles, Itália

Na representação, a atitude tomada por Judite pode demonstrar também uma ação num contexto público que, via de regra, não era destinada às mulheres.

Essa postura mais forte e heroica das mulheres pode ser encontrada na maioria das obras da artista, que depois de sair da condição de vítima faz questão de representar mulheres empoderadas, mesmo as que estão em condição de violência são expressivas ao ponto de ficar claro seu incômodo. Artemísia em suas obras retratou mulheres firmes em seus propósitos, decididas e geralmente aversa a dominação masculina.

Susanna and the Elders, seu primeiro trabalho, em 1910. Num artigo escrito por Dr Adelina Modesti que é pós-doutorada na Escola de Estudos Históricos e europeus , La Trobe University, Melbourne, ela fala de uma interessante descoberta, o último trabalho documentado de Artemísia1652 foi uma desleitura de seu primeiro trabalho, Susanna e as pessoas idosas , trabalho este que ficou desaparecido por um bom tempo, acontece que a pintura foi recentemente reencontrada na Pinacoteca Nazionale di Bologna , com uma atribuição ao Barroco Bolognese à artista Elisabetta Sirani , mas identificado posteriormente como obra de Artemisia Gentileschi.

O mais interessante é que a obra é de total empoderamento de Susanna que dá um basta às agressões verbais.

Susanna and the Elders, seu último trabalho em 1652.

É evidente a postura empoderada das mulheres de Artemísia e isso fica absolutamente claro quando analisamos obras com a mesma temática feita por outros artistas: Michelangelo, ou Miguel Ângelo na Cabela Sistina representa uma Judith carregando a cabeça de Holofernes como um peso, a imagem passa o sentimento de culpa e a dificuldade de Judith em manter sua atitude.

Miguel Ângelo

Judith and Holofernes - 1509 -Cappella Sistina, Vaticano

Ticiano por sua vez, representa uma Judith apática, extremamente delicada que não consegue olhar diretamente para a cabeça que carrega. Também passa uma fragilidade e um arrependimento pelo feito.

Ticiano

Judith -1515

Galleria Doria Pamphili, Roma

Já Artemísia representa Judith e sua serva convictas de sua atitude, ambas em posição de alerta Judith empunhada de uma espada, a cabeça é o de menos, apenas um objeto sem nenhuma evidência. Não existe culpa ou arrependimento, mas sim firmeza.

Artemisia Gentileschi: Judith e sua serva, 1612, Pallazo Pitti, Florença, Itália

No artigo de Cristine Tedesco, mestranda do Programa de Pós-Graduação em História da UFPel, orientação Profa. Dra. Rejane B. Jardim da Universidade Federal de Pelotas chamado AS MULHERES NA HISTÓRIA DA ARTE: ARTEMISIA GENTILESCHI ATRAVÉS DE SUAS OBRAS. Ela questiona principalmente o fato da desvalorização da artista perante os artistas homens no seguinte trecho:

“Cartas de Artemísia enviadas para don Antônio Ruffo, entre os anos de 1649 e 1651, testemunham a discussão dos valores que seriam vendidas suas obras. Segundo Agnati (2001), Artemísia acusa Ruffo de desvalorizar os preços de suas pinturas por serem produzidas por uma mulher.”

Ela afirma também que a fama de “imoral” nunca a abandonou, e que sua participação num ofício pensado majoritariamente para os homens, em certa medida, desestabiliza o discurso dicotômico entre a musa e o criador.

Talvez isso explique o fato de Artemísia raramente ser citada nos livros e aulas de história da arte, e mesmo quando é citada, geralmente não tem a mesma visibilidade dos outros artistas do mesmo período, mas olhando suas obras fica evidente que o fato de ser esquecida ou ignorada não é devido a inferioridade de sua técnica, ao contrário, seu trabalho em técnica chega inclusive a superar seus “mestres”, que outra explicação teríamos para essa falta de interesse dos historiadores para com ela?

Seria receio da influência que imagens de mulheres empoderadas poderiam surtir na sociedade?

Pois, no que depender do Mulher em Si, Artemísia vai pro mundo, assumir seu lugar de poder e realização no meio artístico.

Tratando-se de uma Artemísia seria até estranho que sua poética fosse diferente!

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