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"Hoje eu sei que está tudo certo. Quatro anos depois do dia que em prantos e desespero eu me entreguei e implorei por luz, sei que tudo aconteceu da melhor forma. Naquela época foi difícil aceitar a falta de controle, foi difícil me conformar com “as perdas”, como poderia dar tudo tão “errado”?
Há quatro anos me vi sem chão, diagnosticada como pré-diabética, à beira de uma depressão, sem vontade, sem tesão pela vida, refém das circunstâncias, sem nenhum talento evidente. Vivia uma vida cinza.
Queria mudar, planejei, calculei cada movimento, mas a vida não me deu moleza, se encarregou de me mostrar que a mudança que eu precisava era muito mais profunda, não tinha a ver apenas com profissão ou residência, tinha a ver com estruturas, com emoções, sentimentos, personalidade.
Me vi completamente perdida, frustrada, falida, sem teto, sem perspectivas de vida.
Não tinha mais o que fazer, como lutar?
Vencida pelo cansaço resolvi me entregar e deixar que as coisas simplesmente acontecessem, num dia dormi em Brasília, no outro acordei em Floripa, recebi apoio inesperado de pessoas muito queridas, que me possibilitaram um recomeço, uma nova vida.
No início relutei, esbravejei, não aceitava a condição de “dependência”.
A frustração não dava espaço à gratidão.
Até que ela veio, invadiu meu peito e abriu meus olhos.
Passei a ver cores, comecei a colecionar sutilezas e a resgatar talentos adormecidos.
Me abri para a criatividade, e a vida continuou fluindo, colocando em meus caminhos as pessoas certas nos momentos exatos.
Comecei a me perceber de outra forma, me olhar mais por dentro, abandonei o espelho.
Estudando imagem, me desapeguei do meu reflexo.
Formei uma bolha, me distanciei do mundo desejando ouvir melhor minha própria fala. Ousei experimentar, sair da teoria. Vivenciar.
Sem saber muito ao certo o que fazia, me propus a ver acontecer na prática aquilo que em algum lugar do meu ser já existia.
Questionei, neguei, descontruí, experienciei e continuo sem certezas.
Mas hoje, em todas as mulheres me reconheço, sendo natureza me percebo: mais leve, mais fluida, mais terra, mais vida.
Parece difícil, mas é apenas possível.
Hoje eu confio, sei que está tudo certo.
Só existe o presente, mesmo quando revisito lembranças, é da perspectiva de hoje que olho.
Se vejo uma nova possibilidade para uma antiga questão é graças à minha atual consciência.  
Me perdoo, e sou grata. Fiz e faço meu melhor possível, sempre!
Não apenas não consegui, como ainda estou longe de ser uma mulher perfeita. 
Ainda bem, pois se assim fosse, viver não teria a menor graça.
Sou/estou uma mulher em obras.
 
Habitando-me,  percebo o prazer de morar em mim."
 
Lulie Rosa, Julho de 2015
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© 2015 por Lulie Rosa

 

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