A maternagem e o encontro com a própria luz
Ao constatar a gravidez entrei em estado de pânico, foi um misto de emoções e sensações, nesse corpo em constante estado de mutação aconteciam tantas coisas ao mesmo tempo que me vi entrando num espiral onde a emoção predominante era sem dúvidas o medo.
Medo da dor, dos desconfortos, do parto, do abandono, medo de não conseguir, de não ser suficiente, mas o principal deles era sem dúvidas o medo de me perder de vista, o medo de deixar minguar e desaparecer a mulher que com tanto amor e dedicação vinha despertando e nutrindo. Tive medo de ser engolida pela maternidade, me perdendo nas funções características dessa condição, suprimindo minha individualidade.
Durante a gestação, quando esses medos se manifestaram,busquei apoio nos grupos para gestantes onde obtive informações valiosas referentes à questões práticas inerentes à gestação, parto e puerpério, mas nada com profundidade suficiente para que os sentimentos pudessem ser assimilados e ressignificados.
Obtive muitas informações, dicas, sugestões... até mesmo relatos de experiências, que aliás apenas nutriam ainda mais meus medos e inseguranças.
Sou grata, pois nesses encontros tive a oportunidade de acessar informações que validaram minha escolha por um parto natural, mas junto com essa escolha inevitavelmente vinha também uma carga, pois além de não haver nenhuma garantia de como aconteceria na realidade, ainda precisei lidar com minhas crenças e das pessoas ao meu redor que não eram nada favoráveis.
Entre medos, inseguranças e inquietações não veio o apoio emocional que desejava obter dentro dos grupos, mas em algum ponto do processo me indicaram um livro que diziam fazer total diferença no entendimento da maternidade, e realmente fez, com a ideia de que se tornar mãe é acessar as profundezas adentrei fundo em minhas emoções, vivi cada dia da gravidez intensamente, escolhi sair do meu lugar de conforto em busca de novas possibilidades, me permiti acessar camadas doloridas de algumas relações, me renovar por completo recomeçando tudo em outro lugar.
Sem duvidas precisei olhar e lidar com minhas sombras mais densas, e num parto de 17 horas acessei cada um dos medos já tão familiares e até impregnados em meu ser, Harmonie se recusou a nascer enquanto eu não abrisse mão da ideia de controle, ela subiu ao invés de descer como quem se recusa a chegar nessa vida sob qualquer influência do medo.
Nessas 17 horas respirei muito, ultrapassei o lugar da dor, entrei em sintonia com meu companheiro, ouvi mais de mil vezes a mesma música e inúmeras vezes as batidas de seu coraçãozinho, e o medo ainda se mantinha lá...
Bolsa íntegra, medo intacto, até o momento em que houve uma decisão:
"Não sou perfeita, nunca serei, nem tenho essa pretensão, me sinto viva e isso é suficiente para aprender a ser mãe à cada dia."
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E no momento em que vi seus olhos uma surpresa: nada de sombras.Em seus olhos reconheço minha própria luz, eles refletem o melhor de mim.Em sua presença me redescubro mulher mais forte, mais viva, mais conectada. Sinto que em sua companhia posso fazer o que quiser, até o que nunca fiz.Intensas e profundas são as transformações recorrentes da gravidez, parto e pós-parto, e surpreendente tem sido a experiência de viver de fato a maternagem, conviver com a pequena Harmonie está para além de qualquer expectativa.
Todos os dias sinto que ela se renova, adquire novas habilidades, desperta novas percepções e o mesmo acontece comigo.
Um dia de cada vez, no presente, à ela sou atenção plena, em mim sou plenitude e gratidão.
E assim como nós, o Mulher em Si também se renova e se reconstrói incorporando essa nova fase e face de sua geradora, quem experiencia qualquer proposta Mulher em Si tem a oportunidade de também estabelecer contato com a pequena Harmonie que na maioria das vezes também está presente, compartilhando conosco sua energia de pureza, espontaneidade e vitalidade.
O desejo de encontrar e oferecer apoio à mulheres que passam ou mesmo desejam passar pela maternidade ainda vibra em mim, em algum momento pensei em propor grupos específicos para trabalharmos juntas nossa individualidade, não apenas pensei como movi grande energia para que esses grupos acontecessem, mas no fundo existia a sensação de estar dirigindo na direção contrária, me vi dispendendo grande energia, fazendo força para que tudo acontecesse dentro do que havia planejado e ao me perceber no anti-fluxo decidi parar, reavaliar e perceber se era mesmo este o caminho...
Meu coração me diz que não, na verdade não preciso abrir um grupo específico para "mães", se meu propósito é trabalhar a mulher que também tem essa face o melhor é me incluir e incluí-las, não evidenciar nosso afastamento da sociedade convidando-as a construir um grupo "nosso", onde possamos nos sentir "a vontade". E assim, como quem volta para a estrada depois de descobrir que o caminho era pro outro lado, retomo meu trabalho Mulher em Si de onde está, aceitando, acolhendo e integrando mais essa faceta "mãe" para seguir em frente, propondo vivências para todas as mulheres de coração e braços abertos para receber nos grupos as que estão principalmente mães nesse momento.