A arte do amor
- Lulie Rosa
- 27 de mar. de 2015
- 4 min de leitura

Muitos são os Mitos que falam de Afrodite, tantas histórias, tantos sentimentos, muitas vezes cheios de humanidade, mas ainda assim dignos de uma deusa.
Afrodite é conhecida como a deusa do amor, da fertilidade, da criatividade, a deusa alquímica que alimenta em seu intimo as potencialidades mentais, espirituais e físicas.
Afrodite, pelos romanos chamada de Vênus, é a deusa que menos se rebaixou às influências patriarcais, é a deusa que não se curvou e que continuou sendo amada e venerada apesar de estar muito distante de todos os ideias instituídos para as mulheres, porém, hoje não venho falar da personalidade da deusa, mas sim trazer um mito que mostra um pouquinho do que esta deusa nos oferece.
Convido à todas lerem com carinho este mito, e buscar interpretá-lo para além do que ele diz explicitamente.
Deixo também o espaço para que comentem e tragam outras interpretações possíveis para ele.
A arte do amor
Há muito tempo viveu Pigmalião, grande escultor grego, amante apenas da arte, que via na mulher a ruína do homem.
Acreditava que a mulher apenas desviava o homem de seu caminho, que o sufocava e amarrava sua vida o impedindo de caminhar.
Jurou que nenhuma mulher jamais o prenderia, chegou ao ponto de odiar as mulheres, para sentir-se livre de coração e alma, amante apenas de suas obras.
Porém, certo dia enquanto esculpia, começou a surgir em suas mãos um formidável retrato, uma imagem de mulher, sem que ele intencionasse apenas seguindo sua intuição sentiu que precisava libertar aquela que vivia aprisionada ao bloco de mármore.
Aos poucos a imagem foi surgindo e se tomando a forma da mulher mais bela que Pigmalião já havia visto. Seus olhos não acreditavam que tamanha beleza e perfeição haviam passado por suas mãos.
E ele sabia que se aquela mulher fosse real, mais perfeita ainda seria sua essência interior. Nela trabalhou incansavelmente, até que sentiu que já não lhe pedia mais nenhuma cinzelada. E então passou a contemplá-la.
Daí em diante foi longo o tempo que precisou para admitir a si mesmo que uma mulher poderia mexer com seus sentimentos, em seus sonhos aquela estátua de mármore frio ganhava vida e calor, podia tocá-la e amá-la, mas ao acordar o toque ainda era frio e impessoal.
Passou a venerá-la de tal forma que realmente sua vida sofreu grande interferência, já não fazia mais nada, já não pensava em outra coisa, se não em Galatéia, o nome que sentiu ser o de sua beldade.
Já não aguentando mais todo o incomodo do amor impossível, Pigmalião finalmente se rende e procura Afrodite, humildemente pede a deusa para que lhe envie uma mulher como Galatéia, não ousa pedir para que dê vida à estátua de mármore, mas no coração era esse seu mais profundo desejo, o desejo que foi ouvido pela deusa, que três vezes faz a chama do altar levantar dizendo a Pigmalião que seu pedido foi ouvido.
Com o coração palpitante, Pigmalião retorna ao lar, mais uma vez se aproxima de sua amada, toca suas mãos geladas, acaricia seu rosto, e beija seus lábios rígidos, mas nesse momento algo novo acontece, sente calor saindo de seu corpo e tem seu beijo retribuído.
Fita seus olhos, e percebe vida, toca sua pele a abraça e ama.
Juntos a partir daí constroem uma vida próspera, equilibrada e harmoniosa, cheia de amor e de criatividade.
Afrodite de longe, apenas contempla e abençoa aquele que um dia negou a si mesmo, se impedindo de viver plenamente o amor, mas que a tempo se despertou e não vacilou em voltar atrás em sua promessa.
Essa história fala de um amor, mas não devemos restringir seu ensinamento ao amor entre homem e mulher, esse mito vai muito além, pois fala de amor próprio, a figura de Galatéia representa o feminino que vive adormecido e petrificado em todos os seres humanos, ela representa nossa intuição, nosso mais potente poder criativo.
Galatéia é a imagem daquilo que reprimimos, do amor que negamos a nós mesmas por medo da fragilidade, da vulnerabilidade, por medo de perdermos o controle ao acolhermos quem realmente somos em nossa totalidade.
Galatéia se apresenta a Pigmalião, o masculino que nega totalmente a necessidade ou o prazer de estar em harmonia com seu feminino, mas que ao se perceber como parte que da vida a esse outro lado, acaba se rendendo, e compreendendo que, o que poderia o distrair e desviar de seu caminho se acolhido, apenas o potencializa e torna mais belo e proveitoso seu percurso rumo ao cumprimento de sua missão.
A nós, desejo que com a benção de Afrodite consigamos nos reconciliar com o amor.
Peço para que nos guie na jornada da artista criadora de si, para que no equilíbrio de nossas polaridades possamos amar primeiramente a nós mesmas, para que então consigamos amar com leveza todos os seres viventes.
Imagem: Jean Léon Gérôme - Óleo sobre tela - 94x74cm - 1890 - Metropolitan Museum of Art (Nova York - EUA) Texto e Interpretação Mitológica por Lulie Rosa
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