top of page

Um novo olhar para Medusa - Uma Mulher Inteira

  • Foto do escritor: Lulie Rosa
    Lulie Rosa
  • 28 de fev. de 2016
  • 5 min de leitura

Medusa foi a mais bela sacerdotisa de Atena, a deusa da inteligência e da estratégia. Cuidava de seu templo que ficava na cidade homônima a deusa, mas para servir a divindade deveria se manter integra e invulnerável.

Sua beleza era estonteante, seu cabelo era sua marca registrada devido ao brilho que reluzia cobrindo suas costas.

Medusa tinha muitos admiradores. Muito desejada, era consciente de sua beleza, força e sensualidade, mas não se rendia ao amor, temendo que qualquer envolvimento lhe pudesse tirar a individualidade.

Se preocupava apenas em cumprir perfeitamente suas funções honrando Atena e seu templo.

Porém o deus do mar Poseidon, um dia visitando o templo de Atena, ao ver Medusa sentiu-se muito atraído, sendo rejeitado por ela não se conteve e à força, a penetrou.

Medusa assustada e fragilizada recorreu à sua deusa, Atena, que ao tomar conhecimento do ocorrido ficou possessa, tamanha a ofensa e absurdo dentro de seu templo.

Atena em sua inteligência sabia que não poderia fazer muito contra o deus já que este tipo de atitude era recorrente entre os deuses, optou então por voltar-se para Medusa, assim transformou seus cabelos em serpentes e seus olhos em armas que transformariam todos aqueles que ousassem para ela olhar, em pedra.

Nem Medusa ou mesmo a deusa Atena eram imunes à sua imagem, seus olhos eram armas e escudos que a afastava do mundo e dela mesma, Medusa foi levada para uma ilha distante, a deusa pensando em proteger sua bela sacerdotisa acabou por afastá-la também de tudo e principalmente de todos.

Apesar do feitiço, Medusa continuava bela, mas poucos arriscavam se aproximar, e os que tentavam eram imediatamente petrificados.

Medusa carregou por muito tempo em seu olhar a culpa, se sentiu frágil, vulnerável e oprimida, vítima e injustiçada, assim foi tomada de raiva.

Algumas pessoas ocasionalmente apareciam naquela ilha, mas não conseguiam se aproximar de Medusa, pois seus olhos eram infalíveis.

Quanto mais raiva sentia de sua condição mais potente se tornava sua capacidade de petrificação. Ela mesma se sentia um tanto petrificada.

Mas o tempo sendo um ótimo remédio, aos poucos possibilitou à medusa aceitação, ali isolada pode transmutar muitas vezes seus sentimentos, até acolher sua solidão, não apenas acostumou-se como passou a gostar de sua própria companhia, descobriu o prazer de habitar seu próprio corpo, e em total presença percebeu que estar naquela ilha não era exatamente um castigo, mas sim uma oportunidade de aprender a lidar consigo, para que sua beleza e sensualidade deixassem de ser causa de vulnerabilidade, passando a ser apenas uma condição.

Aos poucos percebeu que as serpentes e seu poder de petrificação não se tratavam exatamente de ameaça, mas principalmente de proteção, se acalmando entendeu que seus sentimentos é que controlavam esses poderes e que cabia a ela a escolha de como e quando usá-los.

Enquanto isso no Olimpo, Atena se questionava quanto à capacidade de aceitação de Medusa, decidiu que já era tempo de testar sua serva, mas como não sabia o que poderia encontrar convocou um guerreiro muito sensível, um homem que pudesse lidar com qualquer situação que encontrasse. Atena então, equipou e enviou Perseu à ilha distante, ordenando que encontrasse e lhe trouxesse a cabeça de Medusa, deu a ele meios de chegar e um escudo reluzente como proteção, sob o aviso de olhar para ela através do espelho para que não fosse petrificado.

Longo foi o caminho de Perseu até chegar na ilha, onde se manteve atento, seu escudo era seu bem mais precioso.

A princípio fez um minucioso reconhecimento do espaço mas não viu nenhum sinal de Medusa, além de algumas estátuas que encontrou pelo caminho. A cada estátua que via seu coração palpitava de medo do que poderia lhe acontecer.

Medusa de longe acompanhava seus passos, observava aquele homem que apesar de nitidamente estar em sua caça não lhe despertava medo, mas curiosidade, durante um bom tempo Medusa se escondeu de Perseu que aos poucos foi relaxando e adentrando cada vez mais aquele mundo. Ele em sua sensibilidade, aos poucos começou a observar as sutilezas, a perceber os vestígios daquela que habitava a ilha distante, e por tudo que via, ela só não lhe parecia um monstro.

Ambos se observavam à distância e se questionavam quanto ao risco que o outro oferecia.

Depois de um tempo na espreita Medusa cansada vacilou e acabou por adormecer em um lugar visível, Perseu andava distraído quando percebeu sua presença, se aproximou cuidadosamente esperando o monstro que imaginava ser Medusa, se apoderou de seu escudo e de sua espada, mirou o escudo para que reluzisse sua imagem antes de atacar, mas quando a viu refletida ficou imóvel, seu corpo ainda era de carne e osso, mas a beleza de Medusa o deixou paralisado.

Pensou na espada em suas mãos, mas sua vontade não era de machucá-la. Recuou. Medusa há muito já havia desperto, mas da mesma forma evitou abrir os olhos por receio de petrificá-lo.

Ambos contiveram-se optando não apenas por não ferir o outro, mas por possibilitar o encontro. Medusa desejava vê-lo, mas temia abrir os olhos, Perseu desejava ser visto, mas temia ser petrificado.

Movidos pela intuição, mutuamente se aproximaram, ambos decidi

ram arriscar, Medusa lentamente abriu os olhos desejando em seu íntimo o controle de seu olhar.

E assim aconteceu, Medusa agora teve certeza que sua deusa não havia lhe punido, mas sim lhe mostrado que a beleza e a sensualidade são condições inerentes à mulher, não há motivo para medo ou vergonha, mas se tornam realmante potências, dádivas quando estão acompanhadas de autoconhecimento, assim a culpa cede lugar à responsabilidade e qualquer vulnerabilidade é substituida pela capacidade de escolha.

Medusa consciente de si, empoderada de sua presença, escolheu não petrificar Perseu, sentindo-se pronta para retornar ao mundo, preparada para lidar principalmente consigo, muito mais segura de sua individualidade, e agora, ciente de sua capacidade de proteção, gentilmente propos a ele que ao invés de uma cabeça levasse de volta à Atena uma mulher inteira.


Lulie Rosa, Florianópolis, 25 de junho de 2015.



Mulher, Artista/Visagista/Facilitadora e Terapeuta Reikiana - com iniciação pelo método Usui. Iniciada na Natural Medicina Alma da Terra – Constelações Familiares e Renascimento.

Cursa Artes Visuais na Universidade Estadual de Santa Catarina, mas seu maior aprendizado vem da experiência, dos grupos que coordena e integra, da vida que tenta encarar de frente.


Por conta própria pesquisa diversas áreas do conhecimento humano, principalmente envolvendo história, psicologia, mitologia, conhecimento ancestral, bioenergética, sexualidade e cultura visual e é assim que tem percebido que livros são apenas pontos de vista, relatos da vivência e da observação de alguém.

Ama fotografar essências e se nutre do empoderamento que vê nascendo e se fortalecendo em cada mulher que se permite olhar seu corpo e sua alma por novas perspectivas.

É geradora do Mulher em Si - o que não sabe definir muito bem, pois tem vida própria e se move, flui e transforma como sua própria vida; mas pelo qual atua com atendimentos particulares e como facilitadora de grupos sequênciais e livres, com propostas intensas, mas leves, diversas, mas todas sem dúvidas transmutadoras.


Conheça mais sobre Lulie e o Mulher em Si visitando nosso portfólio online.





Comentários


Recentes

Arquivo

© 2015 por Lulie Rosa

 

bottom of page