#meuamigosecreto
- Lulie Rosa
- 28 de nov. de 2015
- 5 min de leitura

#meuamigosecreto
é um sabotador que vive dentro de mim, é uma parte minha que sempre que tem oportunidade me diz coisas terríveis a meu respeito, é um oportunista atento que em momentos difíceis me tomou e que se eu permitir ainda me toma a qualquer descuido, me enchendo de medo, vergonha, culpa e principalmente raiva. Pra me enganar muitas vezes ele fingiu que esses sentimentos direcionados e justificados na atitude de terceiros vinham de fora, mas o sofrimento sempre se manteve dentro. Meu amigo secreto inúmeras vezes me fez duvidar de minha própria capacidade, me fez julgar aos outros e a mim mesma negando e criticando escolhas e atitudes diferentes das que eu conseguia ou desejava ter, buscando assim autenticar e afirmar a importância de me encaixar e manter numa zona de conforto. Esse mesmo amigo sabotador me fez muitas vezes ser agressiva com pessoas conhecidas e desconhecidas, me impediu de respeitar a opinião até das pessoas que amo por uma necessidade absurda de autoafirmação, justamente por que ele sempre teve muita dificuldade de lidar com a auto-confiança. Esse amigo também era um viciado que se alimentava da minha vergonha, e essa vergonha muitas vezes veio acompanhada de inveja e crises de inferioridade, que me impediram de me expressar espontaneamente em ambientes onde eu não me sentisse aceita e admirada, ou sempre que eu estivesse rodeada por pessoas a quem admirava muito. Esse amigo sabotador também me causava medo, de não ser aceita, de não ser amada, de ser abandonada. Ele também me incentivou algumas vezes a não dizer tudo o que sentia, ou a procurar palavras mais amenas pra evitar transtornos maiores, mas com isso ele me deixava cada vez mais insegura. E a insegurança sempre me fez fechar todas as portas. Afinal, sempre foi mais fácil "sair fora", desistir, do que lidar com a rejeição e com o fracasso. Meu amigo me ajudou a construir muralhas de proteção. Me protegeu tanto que me afastou muitas vezes da sensibilidade do meu corpo, me distanciou de minha própria sexualidade. A proteção também me fez arrogante e muitas vezes tentando equivocadamente manter ou reforçar minha autoestima minei a autoestima das pessoas que amo, não pelo desejo de ver o outro mal, mas tentando apenas me sentir um pouco melhor. Ainda nessa barreira da arrogância muitas vezes ignorei novas possibilidades, novos pontos de vista, novos aprendizados. Esse amigo que tem uma voz suave me fez incontáveis vezes acreditar que sou vítima de um sistema, que tudo pra mim é mais difícil pelo simples fato de ser mulher. Algumas vezes chegou ao cúmulo de me dizer que meu corpo era feio por não ser como o daquela moça que acho bonita, que meu corpo era sujo por ter atendido meus desejos e impulsos sexuais. Já me disse também que eu não teria muitas chances por ter nascido pobre, por ter estudado em escola pública. Desde pequena ele sussurrava em meus ouvidos que eu não sabia e não podia cantar. Já adulta, várias vezes me disse que eu não sabia por que não tinha feito curso, que não poderia realizar nada sem um diploma, nesses momentos ele subestimou descaradamente minha capacidade de perceber e descobrir coisas por mim mesma, duvidou e me fez duvidar de minha experiência. Meu amigo secreto que agora já foi descoberto ainda vive em mim, mas hoje o reconheço, olho pra ele com carinho, e tento não alimentá-lo mais. Faço isso sempre que confio na vida, em mim mesma, em minha própria capacidade de transformação. Desempodero meu amigo sabotador sempre que me aproprio de minha experiência, me mantendo na presença. Ele dorme quando eu canto, mesmo que no banho, e míngua sempre que desisto de entrar em um embate, sempre que recuo frente ao impulso de impor ao outro minha verdade. Essa nova atitude tem me permitido perceber que a verdade é sempre relativa, portanto hoje, posso facilmente acolher e respeitar todas as verdades individuais, inclusive as opostas as minhas, sem me perder e me distanciar de minha própria verdade. Esse amigo sabotador de voz mansa fica caladinho sempre que eu reconheço o valor de minhas habilidades, sempre que consigo agir com espontaneidade independente do lugar ou das pessoas. Isso tem diminuído tanto a barreira da arrogância que agora consigo reconhecer e honrar as pessoas que admiro, respeitando suas realizações que tanto me inspiram. Isso tem reverberado tão positivamente que me sinto também empoderada a prosseguir, trilhando meu próprio caminho. E aquele amigo que já foi tão presente aos poucos está sumindo. Ele se enfraquece sempre que sou completamente sincera, comigo e com outro, com leveza e doçura. Aquele sabotador se enfraqueceu tanto que tenho conseguido dormir de portas abertas, e se por acaso o medo surge, vou lá e escancaro as portas de casa, percebo que ao abrir é confiança que me invade. Tenho aberto também as portas do meu coração. E é o amor, a alegria e o prazer que estão me habitando. Como se trata de vício, vivo um dia de cada vez, as vezes ainda reconheço algum padrão limitante, mas não me desanimo, pois com doses diárias de autoconfiança a cada dia me amo e me aceito um pouco mais, e isso me permite também amar e aceitar a todos e a cada um exatamente como estão. Desisti de salvar o mundo, desisti até de ter razão. Já não sou mais vítima de um sistema, de um relacionamento, do meu corpo mulher ou de qualquer situação. Descobri que se eu quero que o mundo mude preciso começar pelo que me é mais acessível, minhas próprias crenças, minha própria realidade.
Por isso hoje, escrevendo sobre tudo isso o que sinto é além de esperança, gratidão.
Lulie Rosa - Florianópolis, 28 de novembro de 2015.

Mulher, Artista/Visagista/Facilitadora e Terapeuta Reikiana - com iniciação pelo método Usui. Iniciada na Natural Medicina Alma da Terra – Constelações Familiares e Renascimento.
Cursa Artes Visuais na Universidade Estadual de Santa Catarina, mas seu maior aprendizado vem da experiência, dos grupos que coordena e integra, da vida que tenta encarar de frente.
Por conta própria pesquisa diversas áreas do conhecimento humano, principalmente envolvendo história, psicologia, mitologia, conhecimento ancestral, bioenergética, sexualidade e cultura visual e é assim que tem percebido que livros são apenas pontos de vista, relatos da vivência e da observação de alguém.
Ama fotografar essências e se nutre do empoderamento que vê nascendo e se fortalecendo em cada mulher que se permite olhar seu corpo e sua alma por novas perspectivas.
É geradora do Mulher em Si - o que não sabe definir muito bem, pois tem vida própria e se move, flui e transforma como sua própria vida; mas pelo qual atua com atendimentos particulares e como facilitadora de grupos sequênciais e livres, com propostas intensas, mas leves, diversas, mas todas sem dúvidas transmutadoras.
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