Repensando Julgamentos
- Lulie Rosa
- 18 de mar. de 2016
- 4 min de leitura

O “Ato de Julgar” é inerente ao ser humano, estamos o tempo todo pensando, avaliando, supondo, presumindo, opinando sobre tudo, e sobre tod@s.
Mesmo não externalizando ou admitindo nosso julgamento, julgamos.
Às vezes, inconscientemente.
Assim julgar, em si não é uma atitude ruim, é uma característica inata, formular juízo próprio exige capacidade de organização mental, questionamento e busca por compreensão.
Ser just@ no julgamento é bem mais difícil, pois requer, entre outras coisas, imparcialidade e equidade.
Para ser just@, muitas vezes é preciso abrir mão de convicções próprias, respeitando o direito de ser de cada um@.
Empatia também é arriscado, ao julgarmos uma situação ou alguém nos colocando em seu lugar (seja por ter pensamentos semelhantes, ou adversos, seja por considerar que seria muito bom ou muito ruim viver o que a pessoa está vivendo) na maioria das vezes nos envolvemos emocional e energeticamente com a situação e/ou com a pessoa. Seja condenando, absolvendo, ou mesmo sentindo pena de alguém, não importa, não conseguir aceitar @ outr@ por si mesm@, sem seus próprios medos e castrações é injusto, além de muito desgastante.
Pior ainda, é querer convencer alguém de sua verdade, geralmente essa atitude mostra falta de convicção e insegurança; tentar forçar alguém a acreditar em algo é buscar em outra pessoa a autoafirmação que falta em si mesm@.
Somos seres sociais e muito de nossa mentalidade é construída culturalmente. Somos sugestionad@s à crenças vindas de outras pessoas, instituídas muitas vezes em outros momentos e inconscientemente replicadas.
Nossos sentidos, principalmente visão e audição, se desconectados do corpo, dos outros sentidos e das percepções sensoriais, agem alimentando nossos enganos, nos mantendo alienad@s a pensamentos que até parecem ter surgido de nossa própria mente.
Ter pensamento crítico em torno do que se vê, do que se lê e do que se ouve é apenas o primeiro passo para se libertar de influências que nos afastam de nossa individualidade. Estar atent@ aos sinais do corpo, perceber-se diante das afetações, encarar as emoções de frete assumindo os próprios sentimentos é muito importante.
Questione, mas também questione-se.
Admita suas dúvidas.
Qual o problema em transitar, avaliar, experimentar novos pontos de vista? E até mesmo mudar de opinião?
Tendo abertura e flexibilidade, se decidir permanecer exatamente com o mesmo pensamento e as mesmas atitudes, pelo menos saberá porquê o faz.
Independente da escolha estará consciente dela.
Lembre-se também que vivemos e convivemos com muitos padrões socais e estéticos, ser livre não significa abandonar um padrão migrando radicalmente para outro. Ser radical em qualquer questão, nos autodenominar a partir de uma corrente de ideias talvez seja uma das piores prisões em que podemos nos colocar. Conseguir transitar entre todos os padrões possíveis sem precisar se limitar a nenhum deles, talvez seja o que mais se aproxima da liberdade.
Atitude imatura e passional é além de se reduzir aos padrões e seguir fielmente os pensamentos de outrem, tentar enquadrar, excluir ou agredir pessoas que não se encaixam ou não escolhem para si os mesmos moldes escolhidos por você.
Se apropriar da justiça com sabedoria é julgar uma situação com imparcialidade, avaliar sem tomar partido, considerar o todo e não favorecer ou punir algo ou alguém por estar ou não de acordo com o que você faria, jamais pensando seu próprio benefício.
Pensando nisso, é importante estar ciente de que nossos julgamentos são apenas nossos, seja uma opinião ou crítica - positiva ou negativa - não importa, é apenas um ponto de vista próprio sobre aquilo que analisamos, a partir de nossa própria experiência de vida, conceitos e pré-conceitos que são extremamente particulares, e o mais importante é que tudo o que pensamos ressoa imediatamente sobre nós, interfere em nossa autoimagem e influencia diretamente nossas atitudes.
Geralmente o que conseguimos perceber e criticar n@ outr@ é apenas reflexo daquilo que negamos e evitamos reconhecer em nós mesm@s, se não hoje em algum momento de nossas vidas.
Portanto, julgar, avaliar, questionar, criticar, não é exatamente um problema, mas devemos ter cuidado com essas atitudes, para que não agridam outras pessoas, mas principalmente para que não se tornem limitações para nossa própria vida.
Na maioria das vezes, ao exigirmos uma determinada ação ou postura de alguém, inconscientemente direcionamos a mesma cobrança a nós.
Portanto, sempre que o julgamento surgir em sua mente avalie-se, o que em você está despertando esse sentimento ou essa crítica?
Avalie o que te incomoda, mas também tenha cuidado e o carinho de respeitar suas próprias limitações, somos seres em construção, em estado de desenvolvimento e autoaceitação, ser just@ consigo mesm@ é conseguir enxergar-se como você está no presente, e avaliar-se considerando que você sempre fez o seu melhor possível o com a consciência que tinha cada momento da sua vida e se hoje tem uma ideia melhor para lidar com a mesma questão e ainda tiver a opção de fazer, apenas faça, sem cobrança de que "deveria ter feito", pois tenha certeza que você só consegue enxergar essa opção agora, por ter vivido tudo exatamente como viveu, cada segundo, cada escolha, cada ação.
Estejamos atentos, pois enquanto continuarmos reproduzindo, reduzindo e idealizando o ser humano a partir dos padrões culturais e sociais, não conseguiremos ser just@s, seguiremos condenando ou absolvendo injustamente tudo, tod@s e principalmente a nós mesm@s de acordo com convicções que nem podemos afirmar ser nossas.
E se vier o desejo de aliviar seus julgamentos em relações ao mundo, mas principalmente em relação a si mesm@, volte-se para dentro, busque perceber sua experiência de existir no tempo presente, viva intensamente suas atividades cotidianas, percebendo em detalhes sensoriais o que se apresenta à sua frente; e em sensações as emoções e sentimentos que lhe atravessam a cada momento.
Permita-se perdoar e se desapegar do que foi dito, feito em outro tempo, mesmo acessando memórias ou tendo expectativas, é importante estar consciente de que é sempre do presente que olha, quando a necessidade de julgar diminui apenas o que é sentido e percebido no aqui-agora tem real importância.
Perdão é um presente que damos à nós mesm@s, sempre. Texto em construção à partir de vivências particulares e em grupos, reflexão coletiva, organização Lulie Rosa. De 2014 à 2016.
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