Tudo é questão de ponto de vista
- Lulie Rosa
- 31 de ago. de 2015
- 3 min de leitura

Hoje a dica é o filme dirigido por Sofia Coppola (foto) e estrelado por Kirsten Dunst. Maria Antonieta (2006) que foi aclamado no Oscar, mas obviamente detestado em Cannes, lendo um pouco sobre o contexto histórico francês daquela época, vejo que o que pode ter motivado tal crítica pode ter sido a perspectiva adotada pela diretora, que constrói o filme pelo ponto de vista que favorece a Anti-heroína Maria Antonieta, figura que recebeu desde sua entrada na França o desprezo do povo francês.
Apesar de sutil fica evidente que existe uma empatia da diretora com sua personagem principal, o que não acontece em versões anteriores.
O alto investimento em figurino e fotografia que deixam o filme muito agradável aos olhos serve também para evidenciar o luxo, a ostentação e o desperdício da nobreza em Versalhes.
Mas, diferente do que o próprio povo francês acusou Maria Antonieta, Sofia Coppola mostra que Versalhes foi que a tornou ostensiva e esbanjadora, é discrepante o estilo de vida que Maria Antonieta levava na Áustria e o que foi “oferecido” ou imposto à ela ao chegar na França.
A própria Maria Antonieta na versão de Coppola considera ridícula toda a pompa da conte francesa, trata com desdém a maioria dos cuidados desnecessários que recebe, e ficam evidente seus motivos para tornar-se tão fútil quanto todo o resto da corte, o próprio ritmo do filme evidencia seu tédio e o desprezo sexual que recebe por parte do marido, além de toda a cobrança por sua família e pela corte francesa que exigia do casal o novo príncipe herdeiro, tanta responsabilidade combinada a tanta juventude leva Maria Antonieta a se mover em busca de diversão.
A diretora mostra uma rainha simpática e divertida, um tanto despreocupada, que valoriza momentos agradáveis como o nascer do sol, e as boas e divertidas amizades, além disso, mostra um relacionamento tranquilo e afetuoso entre o casal real. Deixa claro que cada um tinha suas preferências e que se respeitavam em suas diferenças.
E vai além, ao mostrar que Maria Antonieta apesar de ter sido acusada por ser quem faliu a França, por seus gastos exorbitantes, valoriza e tem como seu paraíso a vida simples do sítio, mostra a mulher que valoriza o cuidado com a filha, apesar de todo afastamento imposto pela corte.
A diretora na verdade humaniza a mulher, mostra a anti-heroína francesa como um ser que nasceu e foi criada para ser exatamente como foi, ela a aproxima do público e aproxima o público daquele contexto histórico ao implantar elementos contemporâneos em cenas épicas.
O que consigo trazer para a contemporaneidade é que apesar da história se passar no Antigo Regime ainda vivemos num mundo cheio de diferenças sociais, apesar de hoje o consumo ser comum à outras classes, ainda existem jogos de interesses e grupos que vivem em total afastamento da realidade da maioria e apesar das classes existirem e de alguns serem realmente privilegiados materialmente, isso não faz deles menos humanos ou malvados.
O olhar empático de Sofia Coppola sobre a rainha mostra outro ponto de vista para a mesma história, e o que é a história se não pontos de vista?
Eu indico o filme, não é o melhor de todos os tempos, mas vale a reflexão, fica mais legal se o ânimo permitir ver outros sobre a rainha Maria Antonieta para comparação, como por exemplo o filme de Benoît Jacquot - "Sade", "Marie Bonaparte" ("Adeus, Minha Rainha") onde retrata um possível relacionamento homoafetivo.
Se já viu, ou chegar a ver, compartilhe suas impressões...
Veja abaixo o trailer do filme Maria Antonietta:
Texto de Lulie Rosa:

Artista/Visagista/Facilitadora e Terapeuta Reikiana - com iniciação pelo método Usui.
Cursa Artes Visuais na Universidade Estadual de Santa Catarina, mas seu maior aprendizado vem da experiência, dos grupos que coordena e integra, da vida que tenta encarar de frente. Por conta própria pesquisa diversas áreas do conhecimento humano, principalmente envolvendo história, psicologia, mitologia, conhecimento ancestral, bioenergética e cultura visual e é assim que tem percebido que livros são apenas pontos de vista, relatos da vivência e da observação de alguém.
Ama fotografar essências e se nutre do empoderamento que vê nascendo e se fortalecendo em cada mulher que se permite olhar seu corpo e sua alma por novas perspectivas.
É geradora do Mulher em Si - o que não sabe definir muito bem, pois tem vida própria e se move, flui e transforma como sua própria vida; mas pelo qual atua com atendimentos particulares e como facilitadora de grupos sequências e livres, com propostas intensas e leves, diversas, mas todas sem dúvidas empoderadoras. Conheça mais sobre Lulie e o Mulher em Si visitando nosso site.
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